segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre mulheres e cachorros

Ontem sonhei ser uma mulher.
Nesse sonho mantive a barba, e ainda o apetite carnal propicio dos homens, aquela sensação de euforia que não se controla subia por minhas pernas douradas femininas. No sonho o tempo não corria. Vivíamos estagnados no hoje.
Me indaguei depois se suportaria viver assim; viver eternamente o hoje, pra sempre as 21:44 da noite, um calor abafado e sem trégua. Olharia para o relógio digital e lá estariam os mesmos números, eternamente.
Contudo no sonho não me vinha pois essa sensação. Eu era uma mulher afinal, pensava no futuro mesmo sabendo que ele será feito do hoje. Era demasiado forte o contraste que gerava essa ambiguidade de se ver mulher sendo homem. De fingir ser sensível sendo, de me ofender com detalhes que não existem mas sentir nas entranhas a vontade de se chatear.
Ah! Claro! Existem também o sapato de fundo vermelho, as unhas tratadas e o cabelo que nunca se sente legítimo. Meus olhos claros. Uma pulseira em cada braço.
E a barba.
No sonho eu alimentava um cachorro. Ele me lambia enquanto aos poucos juntava os grãos de ração no canto da vasilha. Depois, correndo pelo corredor ele se sentia coagido. É engraçado ver como os cachorros agem quando estão com um problema; eu podia ver ele raciocinando.
Mas era um cachorro.
E eu uma mulher.
21:54
O tempo passou.
O sonho acabou.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

merda nenhuma pra dizer que escrevi

é, se não fosse
foi, logo sendo
se viu ao longe
de perto nascendo

logo, não se sabe
durante, nunca vi
sabendo de quase nada
já quase descobri

no nada, vazio
um vazio todo cheio
no pouco, muito
no muito desvaneio