terça-feira, 27 de julho de 2010

Um título à altura

 Espontaneamente se foi. Toda aquela euforia desapareceu momentaneamente. Apagou-se, como água aspergida no fogo. Diversos pensamentos, todas as expectativas insossas, penosamente censuradas, ainda habitam nos confins da lembrança. A vontade desapareceu.
 Por ventura, uma estranha sensação de desconsolo, que deveria afligir-me, desperta algo que eu não sentia mais.  De repente aquilo que fere, traz a vida. Imagino até onde a liberdade que busco me trará paz. É difícil crer quão condicionadas se encontram as minhas raízes. Pergunto-me onde realmente se esconde a felicidade. Há goles de café, vejo que não podemos saber ao certo determinado valor.
 Sinto-me pessoalmente preso, porém, emocionalmente livre. Socialmente sem propósito e talvez espiritualmente em conflito. Onde as emoções se fundem ao entendimento, habita hoje o meu conhecimento. Sem lugar para razão me encontro. Sem espaço para revoluções, além daquelas que luto comigo mesmo. Existe afinal outra batalha a se travar?

sábado, 10 de julho de 2010

Uma vida

  Descaradamente tímido ele exibia seus traumas na vitrine da vida. Lamenta-se errar pouco, mas se sentia bem por pouco errar. Era inconstante.
Pulsos...
Pílulas...
Uma vida em vão.
  Agora tomado de assalto, por algo maior que sua mesquinhes e seu orgulho. Ia ser pai! Nove meses para uma mulher dar flor. Nove meses para tanta dor.
Mas de fato algo mudara. O riso se mantinha valente persistente. E aos poucos se dissipava a tristeza; arrastando consigo a falta de vontade. Quem diria: Pai! O ser miserável para um ser tão pequeno e frágil.
  Por ventura até o amor dava indícios de um retorno. Bem modesto; mas já sentia pela mãe afeto.
Os pulsos agora eram agarrados por pequenas mãos...
As pílulas, perdidas no banheiro...
Uma vida não mais em vão.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sobre duas vidas

  Ela odiava filmes. Não conseguia suportar um enredo. As letras surgindo, com os nomes ofuscando a tela. Desejava ver a vida crua e simples. “Pois na vida...” dizia ela “ ...na vida o fim não importa. Feliz ou não, o que vale é o que já foi, e o que é vivido”.
  Ele já amava o cinema. Se orgulhava quando dissertava sobre os grandes mestres, para uma audiência interessada. Adorava as visões estabelecidas, o prisma pelo qual os diretores observavam os fatos. Almejava fazer de sua vida um filme. Dramático cheio de intrigas e desapego. Despretensioso e amável. Terrível e insano. Ele queria amar como Fellini e matar feito Tarantino. Queria, daquela mágica, fazer parte e terminar com os créditos descendo e uma plateia satisfeita.
  O doce e o amargo. O quente e o frio. Nas entrelinhas do tempo o oposto virou do avesso. O feliz amou o triste. O sonhador acordou para o pesadelo. A vida cômica se divertia novamente. Ela morta pessimista. Ele vivo e cheio de amor. Um amor consistente como um vírus. Ela agora infectada para viver. Nas desventuras a realidade sonhou e o sonho se viu realizado. Amava-a. Indiferente. Inconsequente. Desejava-o. Infinitamente. Para enfim morrer.
  Nem Fellini nem a ideia que ela tinha do amar. A vida por fim se mostrava novamente ininteligível. Desconhecida por qualquer mente. Desbravada eternamente. Sem razão as coisas fluem, como a água das entranhas da terra. Mas na vida não podemos cavar tão fundo assim... Podemos?