segunda-feira, 31 de maio de 2010

amável ódio

odeio o fato de não odiar
simplesmente escrevo que odeio
mas não sei ao certo o que é o oposto de amar

amo o fato de não amar
embora evito sempre que posso
odeio não poder escolher do que gostar

terça-feira, 25 de maio de 2010

O amor sem o amar

Os fatos nada mais são do que simples conotações do imprevisto que eu ouso chamar de vida.

Por que às vezes as coisas se tornam fáceis de degustar mesmo estando sem fome?

O amor é pouco estimado. Ao ponto de que eu mal sei o que ele é.

A sim, os fatos. Eles aconteceram hoje como de costume; aparentou uma familiaridade gostosa e casual; o que me leva a pensar sobre os sentimentos.

Sentimentos são geridos somente pelo acaso? Será que o acaso também rege o meu subconsciente quando levanto possibilidades em prol do amor? Em função de possivelmente ama-la?

O amor é pouco estimado.

Meus respectivos pensamentos entorpecidos não são confiáveis agora. Pergunto-me do que são feitas as emoções nesse momento.

Endorfinas, serotoninas e injeções de adrenalina, paixão...

A música soa por mim.

As notas se intercalam nos intervalos dos sentimentos.

Tudo se contradiz sem sinal do fim.

Espero poder amanhecer sem me deparar com tantos lamentos.

O amor, infelizmente, é pouco estimado.

domingo, 23 de maio de 2010

Lembranças de uma noite sem fim


O bafo quente do café que flutuava na beira da xícara, era como um suspiro que subia até os meus lábios; um doce suspirar na noite fria.
Aos meus pés jaziam alguns livros velhos impregnados de um cheiro que só se adquire em longos anos pulando de mão em mão, de estante à estante nos diversos sebos, ajuntando em suas fibras histórias que nunca são contadas.
A televisão iluminava em curtos clarões, na mudança de cada cena de um filme francês, as paredes brancas da sala de estar; onde deitava um colchão entrelaçado de mantas e cobertores centralizado geometricamente no desenho que formava os azulejos no chão.
Já passava das três horas e meia e o sono era afogado nos goles de café que eu entornava aos solavancos; enquanto tentava não pensar naquilo que já estava pensando.
Ela.
As ideias socialistas de François Revel não passavam de um aglomerado de palavras formatadas no livro que eu tentava ler em minhas mãos. Por alguns minutos imaginei Marx vestindo uma saia xadrez seguindo os passos de uma velha canção dos anos noventa. Foi vestindo uma saia dessas que eu a conheci. O som batia forte nas caixas penduradas debaixo do toca-discos na garagem da tia dela.
Me lembro do sabor do vinho barato.
Me lembro das lamparinas a meia luz, deixando tudo numa penumbra rosada.
Me lembro do amor.
Me lembro do amor que não existe.
Me lembro da dor.
Me lembro da dor que ainda persiste.

domingo, 16 de maio de 2010

Destino Inc.

O aroma que brota dessas paredes e prateleiras com todos esses produtos e rótulos diferentes sempre me afundam numa sensação nostálgica. Enquanto empurro o carrinho ouço a minha mãe falando ao meu ouvido sobre como escolher a fruta certa. Por onde quer que eu caminhe a procura dos produtos básicos que constam na pequena "lista de suprimentos", como marca o título escrito a tinta vermelha, que fiz a noite passada enquanto era atormentado pela insônia, não consigo achar nada. Sempre tive essa dificuldade. As mulheres devem realmente possuir aquela "coisa", a tal da visão periférica. Era tão fácil para ela encontrar o que ela queria, que na época eu pensava que as mães tinham uma habilidade especial para achar tudo em qualquer lugar.
Já passa das duas e meia e eu ainda não passei pela sessão higiênica. Preciso de muito tempo para escolher um chá, é quase como escolher o livro certo, você pode perder horas na livraria, mas depois que você começa a saborear cada palavra do livro escolhido, cada minuto gasto vale a pena. Semana passada eu levei um de camomila, pra ver se me ajudava com a falta de sono, não adiantou muito. Dessa vez acho que vou levar esse de chocolate com menta. Nossa! É a ultima caixinha, esse definitivamente é pra ser meu!
A vida é cômica, hoje relembrando esse dia nunca podia imaginar onde cada detalhe me levaria. Era como se naquele momento, cada segundo que eu havia gasto para chegar ali eram premeditados, calculados com precisão cartesiana. A moça que esbarrou comigo na escada do prédio, a chave do portão que esqueci na mesa da sala, me fazendo voltar. O ônibus exatamente três minutos atrasado. O idoso que levou cinco minutos e vinte-e-sete segundos para estacionar seu fusquinha, enquanto bloqueava toda a rua. Cada detalhe hoje me da um sentido diferente, um novo prisma de análise sobre o tempo dentro de nossas vidas. Todos esses fatos, cada ocorrido ao longo do caminho desde do momento em que acordei de manhã, até aquele exato momento em que estendi meu braço para alcançar a caixinha de chá na última prateleira, foram escritos para que eu encontrasse ela. Naquela fração de vida, quando que ao mesmo segundo nossas mãos se cruzaram no ar, meu dedo indicador se entrelaçou em seu mindinho, com seu esmalte verde claro fazendo contraste com a palma da minha mão, consegui sentir o cheiro doce amadeirado que o vento trazia ao bater em seu pescoço. Sua pele era macia como algodão, e seu cabelo de um dourado forte brilhava a luz que irradiava da janela do mercado. Naquele instante tudo parecia mais lento, era como se o tempo havia parado de contar. Nossas mãos demoraram para se desentrelaçarem por completo. Nessas horas você não consegue pensar em algo de bom senso para dizer. Eu só consegui soltar um leve sorriso. Ela me acompanhou rindo enquanto seu rosto começava a ficar avermelhado como os morangos que ela trazia em sua cesta. Em seguida num lapso involuntário que sempre ocorre nessas situações, ambos novamente esticamos os braços em direção da caixinha de chá, dessa vez sem nos tocar-mos.
- Ele é todo seu! - ela disse fazendo um movimento estendendo a palma de sua mão enquanto ria. - Você o viu primeiro.
- De forma alguma, essa caixinha combina mais com você! - respondi, colocando as mãos no bolso do moletom verde que vestia aquela manhã.
- Porque você acha que combina comigo? - perguntou ela arrumando a franja que caia em seus olhos azuis.
- A caixinha é verde como seu esmalte. - disse-lhe rindo.
- Ha, ha! Você tem razão, mas não quero deixar a critério de cor uma escolha de chá!
- Agora é você que tem a razão! Pela primeira vez sinto que alguem entende o que se passa sobre o fator "escolha do chá"! É uma coisa muito importante! - disse num tom de comédia.
- Essa é a vida, enquanto uns perdem tempo com a escolha da camisa certa, outros apreciam a escolha do chá exato da vez! - completou ela sorrindo e continuou:
- O que faremos agora meu caro colega de chá?
Em qualquer outro dia eu teria pego o chá colocado no carrinho dela, me despedido e continuado com as minhas compras sem problema nenhum. Mas naquele dia não! Algo me impulsionava, não sabia ao certo o que era aquela sensação insegura que me percorria as veias palpitando-as num fluxo veloz de sangue. Podia sentir minhas mãos suarem frio. Meus pensamentos me enganavam, e minha memória parecia agir por conta própria. Lembrei de todas as namoradas que tive, do meu primeiro beijo embaixo da ponte numa quarta-feira chuvosa. Lembrei até do que minha avó me disse sobre as mulheres quando eu a contrariei em relação a paixão; "Você se diz passivo as paixões por que nunca conheceu uma mulher de verdade!" Suas palavras naquele momento faziam perfeito sentido, e esse sentido me dava forças, e impulsionavam cada parte do meu corpo até meus lábios trêmularem as primeiras palavras que sairam da minha boca:
- Eis o que iremos fazer minha colega de chá! Só deixo você levar essa tão preciosa e solitária caixinha verde de chá, se você aceitar meu convite para abri-la em minha casa, para assim saborearmos juntos! O que me diz?
Ao terminar essas palavras que eu não sabia de onde vinham, assim como não sabia o que fazer depois de te-las dito. Todo o supermercado parecia ter se calado, num completo e ensurdecedor silêncio. Era como se todas as prateleiras se curvavam para ouvir a resposta que demorava uma eternidade para sair. Até que suaves, e límpidas como as águas de uma cachoeira que desce montanha abaixo, vieram refrescantes as palavras, ditas pela sua doce e suave voz, aquilo era como música aos meus ouvidos.
- Nada seria mais apropriado! Afinal nós concordamos fugir do critério da cor na escolha do chá, mas agora esse critério me parece apropriado.
- Como assim? - lhe perguntei perplexo mais com um sorriso no rosto.
- Ora! Usando das suas palavras: Você combina comigo!
- Ha, ha! Você está certa! - respondi alegre enquanto segurava o meu moletom e continuei:
- São coisas como essa que te fazem pensar sobre os detalhes banais que nos cercam a cada instante.
Segurando a caixinha de chá, caminhamos juntos até o caixa.
- Qual o seu nome? - Perguntei a ela.
- Me chame de Anne. E qual é o teu?
- Vinicius.

E agora eu lhe pergunto querido leitor, será que realmente escolhemos alguma coisa nessa vida?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Suspiros, café e meias brancas

Suspirou por lembrar que um dia passa rapido, tentando satisfazer seus caprichos naquela manhã chuvosa, acordou mais cedo e pois-se a divagar no sofá enquanto segurava uma xicará de café.

Duas da tarde, o cheiro de carne fresca que vinha de fora lhe virou o estômago, não sentia a fome, talvez sentisse uma vontade de comer, mas era nula sua vontade de levantar. Olhava para suas meias brancas de algodão enfiadas até a canela, sentia-se feliz pois seus pés estavam aquecidos.

Um barulho no portão despertara sua atenção. "Alguem podia atender a porta." pensou ele. Levantou-se lentamente colocando os pés no chão, abriu a janela e olhou pela fresta, reconheceu sua antiga namorada parada com os braços cruzados, com um ar apreensivo segurando uma sacola plástica amarela. Rapidamente ele abriu a porta e caminhou até o portão, ao perceber ela puxa um cigarro da bolsa e na tentativa de acender suas mãos trêmulas derrubam o isqueiro, agachando-se ao chão ele levanta acendendo o fumo da moça enquanto convida-a para entrar em sua casa puxando-a pela mão.

Trinta minutos se passaram. Os dois rolavam no tapete completamente nús, suados grudando suas mãos umas nas outras se beijavam, enquanto ele a penetrava puxava seu cabelo loiro lavado até os últimos fios quebrarem em seus dedos. Sem proferir se quer uma palavra, ambos esgotados rolavam um pra cada lado no piso frio da sala. A sacola plástica amarela permanecia intacta em cima da mesa. Vestindo sua cueca ele levanta, segue até a cozinha enche sua xícara de café, enquanto ela acende outro cigarro de joelhos no chão. Ao notar uma leve curiosidade dele em relação a sacola plástica em cima da mesa, ela manda-o abrir com cuidado, para por fim chegar ao verdadeiro motivo que a levou à sua casa. Ele mata o café que restava na xícara branca de porcelana, e pega a sacola na mão, desmanchando o nó ele faz cara de suspense olhando fixamente para ela. Ela diz "não se reprima, faça força homem!" enquanto levantava para ajuda-lo. Com um sutil gesto das mãos indicando para ela não vir, ele senta no sofá e finalmente abre a sacola. Num espasmo de espanto arremessa a sacola pra longe e corre pra cozinha lavar suas mãos.

Quatro da tarde, o sol ja começa a beijar o chão no horizonte, os pássaros se aglomeram nas telhas quebradas do telhado, e o vento abre a janela do quarto batendo-a com força na parede, quebrando o silêncio que pairava na casa.
- Que diabos você foi fazer? O que você esperava que eu fosse pensar? ele disse coçando a cabeça com um olhar profundamente assustado.
- Era isso que você mais gostava nela, seus seios não estou certa? retrucou a moça enquanto vestia seu sutiã e continuou:
- Ai estão na sacola pra você!
- Você é doente!
- A minha sorte é que você também é!
- O que você fez com o corpo?
- Que corpo?
- Como assim que corpo porra? Ela não está morta?
- Não! Pelo menos por enquanto. Amarei ela no porta malas do carro do teu irmão.
- Puta que pariu! Na nossa Chevy preta porra? Vai sujar tudo caralho!
- Foda-se, não pedi pra você parar de olhar pro seios daquela rapariga depois da festa aquele dia?
- Merda menina isso foi a oito meses atrás. Você não perdoá nada?
- Odeio perdão. Nunca pedi e nunca dei.
- Porra! Que merda... - disse ele suspirando enquanto sentava novamente no sofá esticando suas pernas.
- Você gostou das minhas meias?
- Adorei! Você fica bem de branco!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um cristianismo sem cristo

Nos falta a espontaneidade.

O desapego foi desapegado.
Dizemos ter fé.
Dizemos ser cristão.
Vivemos numa falsa esperança.
Vivemos um cristianismo sem cristo.
Achamos que a paz será alcançada, mas nossa guerra é nosso próprio viver.
Desperdiçamos o tempo que já passa depressa.

Queremos o bem, mas somente o nosso próprio bem.
Pensamos repudiar o mal, mas alimentamos ele cada vez mais.

Nos falta a espontaneidade.

Buscamos popularidade e não sabemos o que fazer com ela.
Queremos ser seguidos, mas não sabemos ao menos o caminho a seguir.
Queremos atenção, mas não sabemos o que falar.
Tentamos falar de Jesus, e depois cuspimos em suas palavras.
Pregamos um amor que não fazemos idéia do que seja.
Achamos que somos livres mas somos prisioneiros de nós mesmos.
Juntamos lembranças, bens e histórias inúteis, pré-determinadas e condicionadas e esquecemos de simplesmente viver.

Devemos expandir.
"Largar tudo para segui-Lo"
Atingir o auge do nada, afogar-nos em nossa mesquinharia.
Devemos ser amigos da morte, para na morte renascermos.

Voltemos então a pura espontaneidade.
A felicidade que caminha ao nosso lado.

Vamos comer nossa indiferença,
pra defecarmos nosso orgulho.
Vamos beber nosso conhecimento,
para urinarmos nossa falta de humildade.

Deixemos pra traz nossa grande depressão chamada vida.
Pra finalmente vivermos nossa revolução...

A revolução espiritual!

sábado, 1 de maio de 2010

Repressão sexual de quatro

Sexo, sexual, sexualizando...
Comer nesse contexto não é mais empregado como ato de se alimentar.

Será?

Há quem gaste muitos cruzados para comer mais do que necessita, ingerindo uma quantidade demasiada de carne bovina.

Satisfação.

Comer, comestível, comendo...

Há também quem faça trocadilhos alimentares.
Há quem ri.

Mariscos.
Baguete.
Café da manhã na praia.

Eu rio.

O ato sexual é inexpressivo.
Há quem diga, animal, biológico.

Homosapien.

Há quem classifique.
Foi bom.
Foi foda! (redundante)

Eu digo sexo.
Substituívelmente introcado.
Superestimando o estimado.
Socializando o impraticável.

Penso em Jesus e o sexo.
Alguem quer café?
Jesus nunca fez questão.
Forte; Doce.
Porque fazemos?
Preto, quente e na xícara.
Abstinência!

Sexo é como beber Coca-Cola
Você sabe o que ela representa
Mal sabe como é feita
Não tem dinheiro pra comprar,
e acaba bebendo Dolly.