segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre mulheres e cachorros

Ontem sonhei ser uma mulher.
Nesse sonho mantive a barba, e ainda o apetite carnal propicio dos homens, aquela sensação de euforia que não se controla subia por minhas pernas douradas femininas. No sonho o tempo não corria. Vivíamos estagnados no hoje.
Me indaguei depois se suportaria viver assim; viver eternamente o hoje, pra sempre as 21:44 da noite, um calor abafado e sem trégua. Olharia para o relógio digital e lá estariam os mesmos números, eternamente.
Contudo no sonho não me vinha pois essa sensação. Eu era uma mulher afinal, pensava no futuro mesmo sabendo que ele será feito do hoje. Era demasiado forte o contraste que gerava essa ambiguidade de se ver mulher sendo homem. De fingir ser sensível sendo, de me ofender com detalhes que não existem mas sentir nas entranhas a vontade de se chatear.
Ah! Claro! Existem também o sapato de fundo vermelho, as unhas tratadas e o cabelo que nunca se sente legítimo. Meus olhos claros. Uma pulseira em cada braço.
E a barba.
No sonho eu alimentava um cachorro. Ele me lambia enquanto aos poucos juntava os grãos de ração no canto da vasilha. Depois, correndo pelo corredor ele se sentia coagido. É engraçado ver como os cachorros agem quando estão com um problema; eu podia ver ele raciocinando.
Mas era um cachorro.
E eu uma mulher.
21:54
O tempo passou.
O sonho acabou.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

merda nenhuma pra dizer que escrevi

é, se não fosse
foi, logo sendo
se viu ao longe
de perto nascendo

logo, não se sabe
durante, nunca vi
sabendo de quase nada
já quase descobri

no nada, vazio
um vazio todo cheio
no pouco, muito
no muito desvaneio

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O ser feliz

A felicidade que se procura é a felicidade que se tem.
O ser feliz caminha pela calçada. O ser feliz é oprimido quando se vê preso. E o ser feliz sempre está preso. 
Preso em seu entendimento de ser. Preso em seus ideais insólitos. Desfalece-se ao simples sinal de angustia, e a angustia sempre vem. O ser feliz nunca quer ser triste. O ser feliz não constrói nada, e pensa que sabe construir. Pensa que existe algo além de sua vida insuportável, pensa que existe uma vida que não seja assim. Desdenha os acontecimentos e procura sempre algo que não se pode ter. O ser feliz quer ser mas não é. O ser feliz se indaga: o que é? 
Novamente perdido, o ser feliz foge da vida. E que culpa ele tem? A vida se mostra tão incrivelmente opressiva. Ele se oprime. Na busca por libertação se oprime. Na busca daquela liberdade que foi tão almejada ele se oprime numa liberdade inexistente. Se oprime por saber. Saber que está fazendo de novo. 
Assim como aquela mulher foge do homem quando se compromete demais, quando a intimidade lhe bate à porta... O ser feliz corre. O ser feliz quer algo, talvez no fundo a intenção quando é extremamente necessária, se fortalece. Talvez o talvez seja certo. A metade de chances pra isso. Certo como quando se quer algo. E ele sabe o que quer; sempre soube.
E no fundo ele não liga pra opiniões, nunca ligou. Já tomou várias atitudes. 
A vida é extremamente volátil. Frágil a ponto de cair num sopro. Insensivelmente profunda. E de tão profunda não se vê o fim. Mas o fim sempre é um só.
A morte...
Nas palavras de Heidegger:
"A morte não constitui um fato exterior que se agrega ao nosso ser,
mas participa de sua constituição fundamental como sua possibilidade
mais própria., irremissível e insuperável, 
somos um ser para a morte."
Um ser feliz para a morte.
O ser feliz vai morrer!
Mas por enquanto o ser feliz vive. Vive e não sabe porque.
Vive por que ainda precisa viver. 
Vive. E sabe que nada mais é preciso do que viver. Toda a construção social, por mais idealista e a certo ponto onírico que isso possa soar, é pura e simplesmente social. Está é a vida; mas é a vida que todos querem viver, se não seria. Mas o ser feliz quer a sua vida. Não sabe onde ela está, não sabe como alcança-la nem se ela existe ele sabe, mas o que ele tem agora ele não quer.
Resta saber se algo ele ira encontrar...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Na margem do rio

Era uma vez uma bóia...
Azul escuro era sua cor. De longe se via ela descer o rio. Rio de águas frias, negro. O rio era tua vida, e a bóia seguia vivendo, ao longo do caminho sentia estar vivendo, sentia que percorria um caminho, um caminho natural e único, posto que alguém à colocou na água, era difícil conceber outra realidade.
Ao longo do extenso rio, o tempo passava, o sol brilhava e se punha, a noite trazia a escuridão quando volte-e-meia a lua teimava em se esconder.  Escuridão essa que nutria o desespero em nossa bóia. Essas noites escuras afloraram-à peculiares pensamentos: de que talvez não tivesse escolha, que talvez o rio não fosse a sua vida afinal, de que a vida não nos leva assim incessantemente sem termos a opção de escolher não fluir água abaixo. Esse pensamento subitamente deixou a pobre bóia numa profunda angustia, e a medida que o tempo passava, ela continuava descendo, e descendo. A vida que ela imaginou ser a dela, era uma vida imposta, ela sempre descia, sua verdadeira vida, àquela a qual o sentido viria, era uma mera visualização de uma vontade que ela não tinha como alcançar. Só existia a vida no rio.
Subitamente ela se perguntou: Não teria sido eu que me joguei nas águas desse rio? Até que ponto eu posso pensar que fui colocada nele? Me atirei por pensar que essa vida no rio era linda? Que as águas correriam sempre me levando, me levando pra um final esclarecido e transcenderia a minha existência?
A verdade. Essa sim machucava a bóia. E não era aquela verdade objeto de desejo dos pensadores. É aquela verdade que vem de dentro, a verdade que só ela podia descobrir porque era a sua verdade.
Nem o rio, nem essa vida fora dele. A descoberta de que sua escolha era de fato essencial. Notou que era um pouco tarde. A vida continuava passando. A bóia deve arrastar-se pela margem, se arranhar, se machucar, lutar contra  a água que à puxa, que puxa tua vontade de viver fora d'água. Mas no fim ela ira sair.
Na margem do rio seu olhar será sempre nostálgico, a vida dentro d´água tinha seus encantos.
Na margem do rio ela ira sorrir.
Na margem do rio.

sábado, 13 de novembro de 2010

Escrevo pra dizer que escrevi hoje. Pra dizer que havia dito algo. Pra sentir que sinto.
Escrevo pra pensar. Escrevo enquanto penso, e penso em escrever.
Penso na vida, na futilidade de se pensar na vida, no clichê de se pensar em viver.
Penso logo vivo, vivo no escuro do pensar.
Entendo que o entendimento é desentendido.
Entendo que sei o que não deveria saber. Sei que não preciso, mas precisamente do que o sei.
Brinco com as palavras para me enganar de que elas prestam.
Escrevo pra dizer que hoje eu escrevi. Pra que alguém leia, pra que ela leia, elas.
Elas guiam.
Elas me arrastam.
O que meu pai diria? Mulher? Hum?
Escrevo pra você ler, pra você comentar, pra você logo em seguida esquecer.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ser casado num mundo onde não se sabe o que é casar

Uma vez ele perguntou a ela...
Perguntou a ela "pra que serve servir?"
Ela suada jogada na cama, enquanto tentava acender um cigarro, respondeu "servir serve pra você ter algo pra fazer da vida."
Ele continuou perplexo, levantou da cama, sua sombra à luz dos postes que brilhavam da sacada do primeiro andar, trazia uma imagem densa e onírica. Puxou com os dedos do pé sua cueca vermelha, e enquanto colocava perguntou novamente num tom suave e impostado: "Você se sente útil me amando?"
"Porra! Que tipo de pergunta é essa?" disse ela alterando um pouco a voz.
"Ora, é ruim porque você não se sente ou por que se sente?" indagou novamente o homem enquanto se encostava na grade da sacada.
"Tu não consegue vislumbrar quão idiota foi essa pergunta?"
"Qual delas? A primeira ou a segunda?"
"Porra meu! O que aconteceu contigo?"
"Não sei, só me peguei pensando nisso."
"Afinal, quem disse que eu te amo?"
"Tua mãe me disse."
"Caralho! Você falou com a minha mãe sobre agente?"
"Qual o problema? Ela queria saber sobre a nossa vida sexual. Estava preocupada, sempre me dizia que isso era fundamental na vida de um casal. Ela costumava me dizer que, quando o sexo é bom ele é dez por cento da vida do casal, e quando é ruim, é noventa. Bom... faz sentido."
"Faz sentido? Que porra é essa? Nossa vida sexual é ruim?"
"Ah, não sei amor, queria dar uma no chuveiro de vez em quando depois do trabalho."
"Meu Deus... Não sei o que pior, você falando com a minha mãe sobre nossa vida sexual, ou isso agora!"
O homem caminhando em direção a cozinha, enquanto fazia uma cara perplexa porém inocente, quase ingênua, como quem pensa na vida disse: "Acabou a banana amor?"
"Se acabou a banana!? Vai se foder! Que diabos eu quero saber de banana agora? O que mais você acha de ruim na nossa vida sexual?"
"Ah! Achei uma aqui, estava atrás do saco de maça... Bom amor, eu adoro você né, seus peitinhos e tal, o cheiro do teu cabelo, o corte perfeitamente simétrico de suas pontas louras. Adoro os dedinhos de sua mão pequena, e da curvinha da tua cintura. Na verdade eu só queria dar uma no chuveiro de vez em quando, só isso, sabe? Podia ser na quarta depois da janta, não assisto futebol mesmo. Quarta-feira é um dia de cão no trabalho, umazinha em baixo d'água ia ser perfeito."
"Poxa amor... que gracinha você é... Quer ir pro chuveiro agora?"
Naquele momento após a pergunta, ele parou de comer a banana, jogou a casta no lixo, terminou de colocar na boca a pontinha do resto banana, subiu o olhar que permanecia compenetrado, e calmamente disse:
"É... agora não."
"Porra meu, agora não? É nessas horas que eu não entendo você!"
"Pensando bem, seria legal também, de vez em quando, dar uma na sacada, num domingo de manhã depois do café... é... seria perfeito!"
"Aff... definitivamente eu não me sinto muito útil te amando."
No exato momento em que ele compreendeu as palavras que ela havia dito, num estado de choque, o que outrora era um semblante angelical e calmo agora dava ares de confusão.
"Puxa! Eu sabia... Enfim, agora você vai ter que me responder, já que não se sente útil me amando, pra que diabos serve servir?"
"Cacete! Onde anda tua cabeça? Servir, porra, é... Servir pra alguma coisa faz agente se sentir menos idiota, no mundo sem sentido que agente vive! Pra que serve servir... Aff... Não sei porque a tua fixação nisso agora, só porque você é vagabundo não quer dizer que você não sirva pra nada."
"Vagabundo?"
"É amor, modo de falar, aquele seu trabalho de merda lá as vezes me confundi."
"É verdade... nem me fale. As vezes não sei porque eu trabalho ainda."
"Nem eu.  Meu trabalho não é lá grande coisa também, pensando bem é um lixo."
"Foda..."
"É..."
"Amor?
"Oi?"
"Posso te perguntar uma coisa?"
"Ai ai ai, você tá foda hoje... pergunte."
"Porque agente está junto?"

Uma vez ele perguntou a ela...
Uma vez.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O presente num lapso de tempo

Se constrói um laço com o futuro. Pensa-se que na vida tudo está por vir.
Mantenho-me inerente a realidade até a hora em que ela me bate a porta.
Mas la fora é frio...
A vida realmente é muito mais do que a realidade? Ou habita nos confins de nossos desejos e sórdidos pensamentos, uma fábula de bençãos e prazeres que nunca poderemos alcançar? É, essa liberdade, algo que transcenderá o ser? Somos ainda presos por não saber que tudo o que precisamos são alguns amigos, auto-conhecimento e liberdade? E sendo assim o fato de saber nos libertaria? Até onde existe um padrão para o que o ser-humano precisa? Até onde podemos ser livres?
A breve experiência que vivi, me diz que a liberdade é tão cruel quanto a alienação. O desamparo de saber que tudo depende simplesmente do nosso querer, por mais absurdo que pareça, me desperta uma náusea e uma angustia, por não saber que fim dará a minha escolha, e vivo isso por ainda me apegar a algumas respostas e condições morais de certo ou errado. Mas não sei até onde é possível disso me livrar.
Não sei o que eu quero. Mas ao menos agora sei que quero querer.
Não sei o que vou fazer. Mas agora sei que farei algo.
Aquele laço que construímos com o futuro, uma hora estica e te arrasta pra ele. O presente não existe, ele já é passado a cada segundo num lapso de tempo. O futuro é o que escolhemos fazer.
E o mais tragicamente cômico, é que sempre escolhemos algo, escolhendo ou não.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Existencializando pra não querer

Até onde iremos afinal?
Desvencilhando as formas de ver a vida, vislumbrando um ser melhor, permaneço inquieto.
Todas as formas de análise, que julgo nobres, não me sustentam a idéia do que virá. Nossas escolhas persistem, e atormentam o meu pensamento. O meu querer ingrato anda não querendo nada. Minha vida parou para beber água num riacho profundo, onde resolveu mergulhar.
É de fato questionável toda a existência. Mas onde se encontram as questões se nem se quer existo? Onde começa a tênue linha que divide o nada para o existir? Existo porque penso, como disse Descartes? Se assim for existo demasiadamente. Do contrário, pensar talvez me leve a algum tipo de existência, mas existir anda me sendo bastante incômodo por si só, é o viver que me tira o sono.
Vivência. Até onde vivemos afinal?
Não há como almejar existir mais. Não se pode existir mais do que alguém.
Logo, a vida aguarda-nos.
Antes o querer buscava viver. Hoje busca bens e poses.
Antes o querer queria. Hoje não quer mais.    

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A esperança no silêncio do mudar

O que me faz buscar a incansável mudança?
A vida se expressa tão pouco nesses dias frios, que eu começo a questionar o que tenho como base para as minhas idéias. Milhares de palavras impressas nas dezenas de livros folheados não são suficiente até certo ponto. As idéias alheias são alheias a minha rotina. Não sei até onde a busca por uma mudança tornariam as coisas diferentes.
O que determina uma mudança? De onde surge, se não da própria consciência humana e respectivamente do conteúdo histórico social? Existe em essência uma idéia de mudança transcendental? Seriam essas questões significantes afinal?
Me pego pensando que talvez não devêssemos buscar mudança alguma. Não há nada de novo que não exista em nós desde o início. Devemos nos desvincular de qualquer busca moral, ou espiritual. A grande questão está em voltarmos para o que de fato somos. Trazendo o termo ao belo, devemos voltar ao nada. Conceber a idéia de que nascemos em um estado espiritual completamente ligados a nossa essência, chame ela o que quiser, no caso eu à chamo Deus, é dizer que o que nos resta a fazer é nos libertar de tudo o que nós acreditamos saber sobre a vida. Nos libertar-mos enfim de nós mesmos. Atingir-mos o ápice da negação.
Se a liberdade é por fim uma busca por mudanças, logo ela nunca será alcançada. Porém se a liberdade está na perda da esperança, logo, acredito que possa vir a encontra-lá.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amando-a, tristeza...

Triste...
As vezes tenho a impressão de que ela se afasta de mim. Talvez aquele aperto melancólico que nos leva ao belo, faça parte desse emaranhado de sensações chamado tristeza.
É engraçado pensar na tristeza, assim como, é triste tentar ser feliz. Não há nada mais contraditório em buscar a felicidade, visto que já nascemos essencialmente felizes sem nada. Ao meu ver a busca da tristeza é inerente ao ser humano, assim como a morte sempre encontra uma vida e dela sempre fica dependente.
Ao me deparar com o silêncio desse humilde quarto que habito, vejo o quanto respiro desse ar tristonho, me alimento dessa melancolia, usufruo dessa miséria farta.
Somos seres contraditórios. Gasto o meu tempo com preguiça de viver. Vivo os dias com saudade do futuro que em meus devaneios construo. Converso com a tristeza, como se ela fosse uma senhorita de bom senso.
"Passo todo o meu tempo pensando em você" eu digo a ela.
"Cedo ou tarde eu te chamo pra perto" ela responde.
Nessa fábula, a tristeza não tem um rosto, seus cabelos flutuam ao vento, horas à chamo pelo nome, horas não ouso entrete-la. À vejo sempre com certo receio, bem como para com as mulheres, educo meus pensamentos para no fim perder o controle dos meus atos. Seria engraçado se não fosse triste. O impacto da essência feminina em mim é semelhante ao efeito nostálgico que me traz a tristeza, bem como certas mulheres recém descobertas: sempre exercem um fascínio estrutural em meu sentimentalismo amador.
"Ao longo do dia, me deparo com a tua rotina me chamando pra perto de ti" ela sussurra.
Eu não sei o que é o amor, mas me sinto triste ao pensar nele.
  

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Devaneios de uma noite chuvosa

Me lembro...
Lembranças mortas, que em mim ainda vivem.
Desperdiçando a vida, eu busco encontrar a morte; somos seres estúpidos.
Nenhum racíocinio nos leva a crer que somos livres. A busca da liberdade é
masturbação, mas o orgasmo nunca vem.
A vida rotineira... dessa ja se fala muito, e muito ainda dela se tem.

As coisas que você possui, acabarão possuindo você.
Essa frase faria sentido se ja não estivessemos completamente possuidos.
Talvez as coisas sempre acabam nos possuindo, assim como sempre somos alienados em algo.
Assim como sempre escolhemos algo. Sempre queremos algo.
Tomo como base as sensações atuais, para crescer meu castelo de idéias. Assim como
disse Lewis, nosso castelo de cartas, que um dia Ele virá assoprar. Pra que tamanho
esforço se no simples nada habitam as fábulas da felicidade.
Desilusão, desilusão...
Respiro.
Suspiro.
Para essa vida, estou a falescer.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Eis um conto qualquer

Eis que a morte lhe pareceu agradável. Na ânsia da procura viu-se morto.
Ela passou ao teu lado, contudo, não parou. Seguiu rua abaixo, trazia em sua mão algo pontudo, que brilhava amarelo ao refletir a luz do poste. Enquanto prosseguia tirava com o dedo a calcinha que adentrava no meio da sua bunda.
Ele riu.
Pode ele viver sem ela? Na ruptura da relação, ele se viu perdido, mas aliviado. A alegria dizia olá e depois virava as costas. Mesmo ele, não perdendo tempo com sentimentos depressivos, as vezes se encontrava pensando no futuro dela - em sexo. E aquela visão no fim da rua o levava longe. Adorava calcinhas assim como mulher adora sapato. Revogando todos os instintos, deixando pra traz o sentimentalismo clichê, lá no fundo ele sentia algum tipo de falta dela.
Ela riu.
Eis que a morte lhe parecia agradável. A ânsia da procura acabara.
Com os pés já no meio fio ela hesita. O vento sopra seus cabelos. Ela vira e olha pra traz.
Eles riem.
Ele odeia frescuras. Ela ama ele.
A vida ri.

sábado, 11 de setembro de 2010

Sexo inc.

Pela parede fina de tijolos do meu pequeno quarto, eu pude ouvir pequenas manifestações sexuais nessa noite fria de Setembro. A voz doce feminina intercalada por pequenos gemidos, adentraram em minha leitura. As palavras permaneceram vagas enquanto os sussurros ao lado não cessaram.
É engraçado pensar sobre o que em essência é o sexo. A cada dia que passa construo um abismo enorme entre o amor e o sexo, edificando um novo sentimento, bastante peculiar para mim, para o sentido de amar. Talvez o limite entre as experiências a nível de relacionamento humano e as simples manifestações biológicas, enraizam em nós uma visão desconexa do ato sexual. O coito reprodutivo hoje é a base da nossa sociedade. Como disse um grande amigo meu hoje de tarde, "se Freud estivesse vivo hoje, ele estaria rico", a essência do sexo hoje se defini unica e exclusivamente pela repressão que ela exerce em nós. O que teria que vir a ser um ato de liberdade, de puro e simples afeto humano, é um fator que dirige a nossa vida. Me pergunto até onde temos controle sobre isso?
Ainda escuto, pela fina parede, o jovem casal se relacionando, mas agora não de forma sexual. É deprimente até certo ponto. Salve a solidão! O poder que ela exerce sobre ele é puramente influenciado pelo instinto sexual. Será ele reprimido? Quem não é? Agora sim chego a uma pergunta importante:
Existe uma forma de puro e simples controle sobre todos os nossos graus e facetas que chamamos vida? Há quem diga que é mais fácil trepar e depois puxar um assunto. Há quem faça isso simultaneamente. Há quem prefere sobre o efeito do álcool. E há aqueles que querem de qualquer forma.
Será que existe aquele que disso livre está?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Vida

  Possivelmente, toda essa sensação, é passageira. Vagamente me recordo de alguns fatos, mas nada semelhante. Por diversas vezes estive estagnado, a medida em que a vida corria seu curso, os minutos contando os segundos, o dia nascendo e logo se pondo a morrer, o que era a vida? E o que vai ser a vida? Se ela se adapta e se multiplica em suas espécies, o que define o viver? Quando outrora pensava que por fim vivia, era demasiado ingênuo. Esse lapso de tempo que se constitui no presente, e que aparentemente mostra-nos opções e escolhas, sensações e esperanças, não passa de uma idéia do que possivelmente é a vida.
  Há quem diga que, o ser-humano é o único animal que busca o sentido da vida, que busca a felicidade, os demais simplesmente à vivem e são felizes. Acho difícil viver sem pensar em como se vive e consequentemente acho difícil ser feliz depois de perceber como gastamos o nosso tempo.
Não existe vida em sua totalidade. Não existe razão em nosso viver.
Estamos mergulhados em condições e ilusões, nos afogando em hipocrisia. Fazemos de algo estupidamente simples um objetivo inalcansável.
Brincamos de ser feliz...
Brincamos de viver.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O vazio que parece cheio

Não direi mais o quanto a vida é tragicamente cômica.
Eu sou a falta de surpresa do Jack.
Algumas sensações vem em conjunto. Não sei até onde sentimentos nos afetam por si próprios. A solidão almejada vem acompanhada de um vazio, não é tão sozinha afinal. Acho que é isso que Kierkegaard chama de desamparo. Espero que a recompensa seja doce.
Estranho é pensar que essa angustia tem um sabor doce. Um aperto parecido com um abraço de despedida dado por um ser amado.
Amor... rodamos e rodamos, pensamos e pensamos para cair nele, e então percebemos que dele nada sabemos! E talvez nunca saberemos.
Ainda procuro uma definição ao nível do que é sentir a falta de alguém.
No silêncio, o barulho das teclas incomodam. Quanto mais silêncio mais sensibilidade.
As batidas do coração começam a incomodar. O vento é teu amigo.
No silêncio só o nada é companheiro. Saudoso nada.
Acho que cheguei onde queria.
No nada se encontra tudo.
Nada.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Um dia de trabalho

Na vida o humor é o ar.
Enquanto vivemos respiramos o oxigênio da ironia. Sorrimos ao levantar de manhã, ao tropeçar em um fato cômico rotineiro.
A vida é uma piada.
As mulheres são uma piada. E nos gostamos de piadas. Gostamos de estipular objetivos. Nas gargalhadas temos a ilusão de sermos felizes. O humor afeta nosso entendimento do que de fato nos faz bem, semelhante ao álcool, mas talvez a ressaca seja maior.
Tragicamente a vida ri.
Anda-se para chegar a lugar nenhum. Comemora-se a simples quebra da rotina escravizante. Procura-se a vitória sem recompensa alguma. Queremos nos sentir completo.
A vida ri.
A morte mata.
O nada é o céu.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Azul calcinha

"E se o céu fosse aqui?" disse o galante rapaz a tua amada. "E se a vida, esse mar de caos e lamúrias, fosse o que as pessoas chamam de outro mundo?". As dúvidas reinavam em tua cabeça. Ali na cama de um motel fulera na 24 de maio, ele não conseguia pensar em outra coisa. Sua querida nua de bruços, balançando seus pés ao léu, com o lençol da cama molhado por sobre a bunda, naquele momento ela viajava em seus próprios pensamentos, enquanto acendia um cigarro ignorava o que ele dizia. E ele prosseguia normalmente: "O que teria de bom no céu que não podemos encontrar aqui? Afinal Jesus se constituiu homem, e está vivo agora afinal como dizem. Então porque diabos não podemos simplesmente viver nossa vida? Essa espera talvez seja mais depressiva do que o inimaginável inferno." E como quem não liga a mínima, a senhorita pelada, tragando forte o cigarro, interrompe o galante amado atravessando a conversa. "Aquela hora em que eu fiquei de quatro você bateu na minha bunda? Aquilo foi um tapa não foi? Porra... Estou vendo a marca dos seus dedos aqui no meio da minha bunda." O rapaz desconcertado, como quem perde o rumo do assunto em que disserta, pára um segundo pra pensar e diz: "Acho que foi! Não lembro... Enfim, a unica coisa palpável na vida afinal são as desgraças, dizia Schopenhauer, o que julgamos ser bom, é na verdade a ausência de uma coisa ruim. Os infortúnios, esses sim são sentidos. Mas de qualquer forma deve ter em algum lugar da bíblia algo que Jesus tenha dito que se possa interpretar como sendo nossa vida terrestre o céu que Ele pregava. Se há quem diz que se pode viver o céu na terra, acredito que seja esse o único céu que Jesus se referia. Não que a idéia do céu transcendental me pareça ruim, eu só penso que o que virá depois da vida que Deus nos deu, é algo que não cabe a nós julgar melhor do que o que nós temos aqui. Desconhecemos qualquer coisa relacionada a ela."
 Nesse momento a pequena moça se encontrava de pé se dependurando na parede tentando por sua calcinha azul. Depois de uns minutos tentando, ela estufou os peitos, olhou para os mamilos, respirou fundo olhou lentamente para o teu amado, e novamente respirou fundo, dessa vez com menos intensidade, caminhou até alguns centímetros próximos da cama onde ele estava e despreocupadamente disse: "Eu não sei porque você começou a falar sobre isso, nem consigo imaginar porque isso veio a tua cabeça. Me desapego de qualquer tipo de fé. Nós trepamos por várias horas. Você me disse, hora coisas boas, hora coisas estranhas, hora somente sussurros incompreensíveis. Me deu um tapa na bunda. No fim das contas de certa forma eu concordo contigo. Acredito sim como Schopenhauer que a vida é um poço de misérias sem uma ordem certa. Mas existe afinal como colocar Deus no meio disso tudo e não parar para pensar que talvez o céu poderia perfeitamente ser aqui na terra? O céu seria uma escolha, não um lugar. Um querer, sartreniano. Um fruto da nossa essência, o querer que nos molda. O livre-arbítrio seria a chave. Foi Ele que nos deu, porque exclui-lo? Só te digo uma coisa..." Ele surpreso e instigado rapidamente pergunta: "O que?" e ela com um sorriso esboçado no rosto, tira a franja negra que escorre por sobre seu olho, respira fundo olhando fixo para ele e diz: "Se você em alguma ocasião qualquer durante toda a nossa vida, se atrever em qualquer hipótese que seja, espalmar novamente a porra da minha bunda! Eu faço você responder todo esse questionamento pessoalmente!"
Ele pagou o motel.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ele e ela

 - O que você vai ser quando crescer?
 - Você quis dizer “o que você quer ser...” certo?
 - Eu disse o que eu quis dizer.
 - Não sei. Tem como alguém disso saber?
 - Eu sei! Sei bem o que vou ser.
 - Oras! Diga-me então!
 - Serei menos do que ontem e mais do que amanhã. Agente vai se desfalecendo...
 - Hum... O que você vai fazer no fim-de-semana?
 - Provavelmente o que você for sugerir a seguir...
 - Mas você não sabe ao certo o que irei sugerir, como pode ter se decidido?
 - Bom... De hoje até sexta-feira, serei menos do que agora sou. Logo... Não quero perder tempo analisando a sua proposta. Dessa forma eu tenho a ilusão de que ganhei um pouco de vida na terra.
 - Você é meio doido... Mas eu gosto.
 - E eu meio que gosto de você... Mas você é doida.
 - Eu doida?
 - É! Você!
 - Porque? O doido aqui é você!
 - Sim! E quem convida um doido para fazer algo no fim-de-semana é o que?
 - Oportunista!
 - Mas a mulher aqui é você!
 - Ah! Não quis dizer no sentido sexual!
 - A sim... Para que o oportunismo então?
 - Não são os loucos aqueles que olham para o mundo de uma maneira diferente?
 - Acredito que sim.
 - Então. Estou bem cansada desse mundo que eu vejo.
 - Já te falei que eu te amo?
 - Não! Nós acabamos de nos conhecer!
 - A sendo assim não direi...
 - Como assim? Como você consegue conter um sentimento desses?
 - Eu nem sei o que é o amor.
 - Então porque ia me dizer que me ama?
 - Porque você me parece um pouco o que eu imagino ser o amor.
 - E como seria isso?
 - Hum... É como aquele tipo de coisa que você não faz ideia que existe, nem como funciona. Então num belo dia você acaba, acidentalmente, encontrando-a por acaso. Você descobre algumas coisas sobre ela e acaba sentindo algo.
 - Puxa... isso foi muito bonito! Nunca me disseram nada parecido.
 - Eu sei, eu sou doido se lembra?
 - É... faz mais sentido agora.
 - Se faz sentido, afinal, você está curada!
 - Curada? Do que?
 - Da loucura! Ela não faz sentido. Ou estaria eu curado?
 - É mais provável você estar. Faz mais sentido. Haha!
 - É... faz.
 - Está quente aqui né?
 - Pois é... Deu uma esquentada...
 - É...
 - Bom, eu acho que te amo.
 - Legal!
 - É... É bem legal mesmo.
 - Está gostando?
 - Do que? De amar? Sim, é uma sensação boa.
 - Superestimado?
 - Talvez...
 - Eu acho que te amo também.
 - Legal... Como se sente amando?
 - É bacana... Da uma coisinha no estômago.
 - É verdade... Dá mesmo.
 - Será que amor tem algo a ver com o que agente come?
 - É... Ahaha! Acho que sim...
 - Bom... foi legal amar você.
 - É... foi bom também, te amar.
 - Quanto eu devo?
 - Hum... deixa eu ver... Dois cafés e uma rosquinha... Quatro e cinquenta!
 - Ok! Tome! Fique com o troco!
 - Obrigado! Até mais ver!
 - Até...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Um título à altura

 Espontaneamente se foi. Toda aquela euforia desapareceu momentaneamente. Apagou-se, como água aspergida no fogo. Diversos pensamentos, todas as expectativas insossas, penosamente censuradas, ainda habitam nos confins da lembrança. A vontade desapareceu.
 Por ventura, uma estranha sensação de desconsolo, que deveria afligir-me, desperta algo que eu não sentia mais.  De repente aquilo que fere, traz a vida. Imagino até onde a liberdade que busco me trará paz. É difícil crer quão condicionadas se encontram as minhas raízes. Pergunto-me onde realmente se esconde a felicidade. Há goles de café, vejo que não podemos saber ao certo determinado valor.
 Sinto-me pessoalmente preso, porém, emocionalmente livre. Socialmente sem propósito e talvez espiritualmente em conflito. Onde as emoções se fundem ao entendimento, habita hoje o meu conhecimento. Sem lugar para razão me encontro. Sem espaço para revoluções, além daquelas que luto comigo mesmo. Existe afinal outra batalha a se travar?

sábado, 10 de julho de 2010

Uma vida

  Descaradamente tímido ele exibia seus traumas na vitrine da vida. Lamenta-se errar pouco, mas se sentia bem por pouco errar. Era inconstante.
Pulsos...
Pílulas...
Uma vida em vão.
  Agora tomado de assalto, por algo maior que sua mesquinhes e seu orgulho. Ia ser pai! Nove meses para uma mulher dar flor. Nove meses para tanta dor.
Mas de fato algo mudara. O riso se mantinha valente persistente. E aos poucos se dissipava a tristeza; arrastando consigo a falta de vontade. Quem diria: Pai! O ser miserável para um ser tão pequeno e frágil.
  Por ventura até o amor dava indícios de um retorno. Bem modesto; mas já sentia pela mãe afeto.
Os pulsos agora eram agarrados por pequenas mãos...
As pílulas, perdidas no banheiro...
Uma vida não mais em vão.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sobre duas vidas

  Ela odiava filmes. Não conseguia suportar um enredo. As letras surgindo, com os nomes ofuscando a tela. Desejava ver a vida crua e simples. “Pois na vida...” dizia ela “ ...na vida o fim não importa. Feliz ou não, o que vale é o que já foi, e o que é vivido”.
  Ele já amava o cinema. Se orgulhava quando dissertava sobre os grandes mestres, para uma audiência interessada. Adorava as visões estabelecidas, o prisma pelo qual os diretores observavam os fatos. Almejava fazer de sua vida um filme. Dramático cheio de intrigas e desapego. Despretensioso e amável. Terrível e insano. Ele queria amar como Fellini e matar feito Tarantino. Queria, daquela mágica, fazer parte e terminar com os créditos descendo e uma plateia satisfeita.
  O doce e o amargo. O quente e o frio. Nas entrelinhas do tempo o oposto virou do avesso. O feliz amou o triste. O sonhador acordou para o pesadelo. A vida cômica se divertia novamente. Ela morta pessimista. Ele vivo e cheio de amor. Um amor consistente como um vírus. Ela agora infectada para viver. Nas desventuras a realidade sonhou e o sonho se viu realizado. Amava-a. Indiferente. Inconsequente. Desejava-o. Infinitamente. Para enfim morrer.
  Nem Fellini nem a ideia que ela tinha do amar. A vida por fim se mostrava novamente ininteligível. Desconhecida por qualquer mente. Desbravada eternamente. Sem razão as coisas fluem, como a água das entranhas da terra. Mas na vida não podemos cavar tão fundo assim... Podemos?

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A esperança na desilusão

O que é desilusão?
A origem da decepção? Ou fruto?
Possivelmente nos desiludimos por profundos motivos. Seriam esses motivos alheios a nossa capacidade?
Nos desiludimos por algo que não conseguimos fazer, ou por algo que nos foi negado?
Existe a possibilidade de nos desiludirmos após caminhar por todas as vias e analisar todas as possibilidades sem excessão?

Provavelmente não.

Estaria tambem a desilusão ligada a aleatoriedade da vida? O "caos" por assim dizer?
Francamente nós desistimos de responder essas perguntas.
Ultimamente nossa unica desilusão é acreditar em algo que não deviamos considerar.

Nos desiludimos em vão.

Nos decepcionamos depois te estarmos desiludidos? Ou nos desiludimos após sermos decepcionados?
Decepção, pode se definir como quando, numa situação, nossas espectativas foram surpreendidas, e o que acreditavamos que fosse acontecer, não acontece.
Eventualmente desilusão, podemos definir, como quando, perdemos a esperança em determinada situação ou propósito. Logo a desilução é decepcionante, mas não é a decepção em si.

Nossa desilusão é a ilusão de termos esperança. E nossa decepção é esperamos demais.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sobre o ócio e a rotina

Puta noite longa...

Minha voz ecoa nesse banheiro.
Folha dupla, tripla; consumismo nos pequenos detalhes.
ROTINA!
Ócio para dar e vender; comércio até na falta do que fazer.
E é na falta do que fazer que discernimos o que é o fazer em si.

Ato, fato, simples relatos, notados por alguem, inúteis por natureza.
E o que de fato somos por natureza? Mais algum fato relatado por um ato?
Matéria orgânica em decomposição.

Ouvi um homem dizer essa noite que a vida vivida somente por normas, ideologias, instituições e regras não é o suficiente... olha quem fala, alguem que gira a engrenagem mais alienante da sociedade...
É fácil falar, difícil é fazer!

E olha o fazer mostrando as caras novamente.
Se é no fazer que se esconde os fatos.
E é não fazendo nada, (ócio), que encontramos o que queremos fazer.
Nossa sociedade está perdida.
As pessoas estão perdidas.
E eventualmente eu estarei perdido.

Puta noite longa...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ensaio sobre o amor

Dizer a uma mulher que a amo...
Seria tão importante essa atitude para minha felicidade? Rudemente invadir a sua vida. Desestabilizar tudo o que ela sabe sobre o que eu sinto por ela? A troco de que vale todo esse transtorno em minha vida? Talvez eu devesse fingir que tudo está normal, afinal como diabos alguém chega numa conclusão dessa magnitude?

Odeio o amor...
Será que eu odeio o amor ou ama-la? Existe tal separação? O amor do amar? Odiá-lo ou odiá-la?
Será que eu amo a ideia que tenho daquela mulher, ou ela? Amo-a por mim, pelo o que ela me traz de bom? Ou amo pelo o que ela é? Ou ainda pior amo-a pelo o que ela pode vir a ser?
Pode-se amar o amor que a pessoa amada diz ter? Se possível fosse, estaria amando ela ou um sentimento?
Ama-se o amor? Ou ama-se a pessoa?
Devemos buscar o sentimento ou um individuo?
Seria na busca do amor dos outros, onde encontramos definitivamente o nosso sentimento de amar? Caso contrário não existiria a vontade de amar?
Será que existe a possibilidade de buscar esse sentimento de amor sem amar o individuo? Seria por essa busca do nosso amor no amor do próximo a resposta para amores não correspondidos?
Se eu busco um sentimento de amor no amor de um individuo, mas esse individuo não me ama, não existindo assim o amor para se achar, logicamente não encontro o sentimento. Então por que amamos quem não nos ama?
Acredito que se alguém ama quem não o ama, na verdade está tentando viver um amor que ainda não tem.
Seria o amor um sentimento, ou simplesmente um fruto de um ato? Ato esse o de buscar. Ou seria o sentimento de amar o puro amor?
Por ventura, se não se tem ainda o amor, poderia ele florescer de outra forma, sem a busca nos indivíduos, nascendo assim o sentimento de amar?

Contudo seria o amor em que nos baseamos atualmente na sociedade uma substancia química bombeada em nosso sangue, que percorre todo nosso corpo, causando aquele aperto em nosso coração, e aquela sensação gostosa em nosso cérebro? Ou somente uma vaga ideia egoísta intitulada "gostar de alguém?".

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma flor por sobre a terra

Existe uma forma de sentir o que não foi experimentado,
Descrever o que não foi sentido?
Existe uma forma de correr sem nunca ter andado,
Morrer sem jamais ter vivido?

Quero ser velho ainda jovem.
Molhar-me antes de saltar no rio.
Beber sem jamais ter tido sede.
Assassinar algo que nunca esteve vivo.

Simplesmente morrer.
Morrer e continuar respirando.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Prólogo de um futuro incerto

Prólogo

Tomado por um fato, Getúlio jazia em demasiado sentimento de ansiedade. Outrora pensava na vida depressivamente, "Tudo não passa de uma grande e admirável merda: a qual sentindo seu cheiro deslizamos em suas beiradas e acabamos por permanecer aterrados a ela.” Ele costumava dizer. Tudo parecia sujo à medida que seus pensamentos se aprofundavam na condicionada moral humana. E naquela noite, deixava suas lamurias para traz e se aprofundava nesse novo e fresco fato.

Como ultima saída para sua amarga condição, Getúlio formulava suas ideias em voz alta: “Na ruptura de meus pensamentos, com toda a indecisão que existe na vida, esse fato me parece plausível. Acredito ter encontrado uma via menos depreciativa de continuar a viver nesse rio de água fria: essa via é doce e perigosa. Ela se entrelaça num suave perfume de rosas que nos rasga a pele com teus espinhos. Se esconde nos caminhos tortuosos do diálogo e do prazer. Se manifesta a poucos que a buscam, e se agarra a pura experiência trazida pela vivencia.” E saindo apressado pela rua, ele puxa o zíper de seu moletom e se põem a andar pelo calçadão iluminado, e num frio onde jazia o vazio do silêncio, Getúlio continuou a falar sozinho como se seu pensar houvesse tomado as rédeas de tua língua. “É somente na existência do ser feminino que busco encontrar minha salvação. Nas profundas cavidades vaginais, é onde pretendo me alocar quando me bater aquele cheiro de merda que exala dos cantos e becos dessa sociedade pueril. Ei de sucumbir aos desejos da carne para assim suprir as necessidades que a vida me nega. Irei me afogar em prantos desconsolados, e me deliciar onde encontrar a pura libertinagem. Nelas irei me libertar, e somente nelas sentirei o êxtase que jaz esquecido em alguma parte do meu ser. Amarei-as assim que degustar suas primeiras palavras. Amarei-as assim que seus braços se entrelaçarem aos meus. Prostrar-me-ei aos caprichos das mulheres, caindo num profundo sono em teus seios maternos.” Ao terminar suas palavras, Getúlio se encontrava em frente à porta de um bar, onde ele concretizava seus pensamentos com a doce visão de uma jovem moça apoiada num pilar de madeira. Ela olhava diretamente para ele. E assim como ele adentrava as portas do estabelecimento, começava a viver sua nova vida, sua nova descoberta sendo desbravada, sua reviravolta sendo apreciada. E todo aquele fato se iniciava ali, com um simples “Oi!”.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

amável ódio

odeio o fato de não odiar
simplesmente escrevo que odeio
mas não sei ao certo o que é o oposto de amar

amo o fato de não amar
embora evito sempre que posso
odeio não poder escolher do que gostar

terça-feira, 25 de maio de 2010

O amor sem o amar

Os fatos nada mais são do que simples conotações do imprevisto que eu ouso chamar de vida.

Por que às vezes as coisas se tornam fáceis de degustar mesmo estando sem fome?

O amor é pouco estimado. Ao ponto de que eu mal sei o que ele é.

A sim, os fatos. Eles aconteceram hoje como de costume; aparentou uma familiaridade gostosa e casual; o que me leva a pensar sobre os sentimentos.

Sentimentos são geridos somente pelo acaso? Será que o acaso também rege o meu subconsciente quando levanto possibilidades em prol do amor? Em função de possivelmente ama-la?

O amor é pouco estimado.

Meus respectivos pensamentos entorpecidos não são confiáveis agora. Pergunto-me do que são feitas as emoções nesse momento.

Endorfinas, serotoninas e injeções de adrenalina, paixão...

A música soa por mim.

As notas se intercalam nos intervalos dos sentimentos.

Tudo se contradiz sem sinal do fim.

Espero poder amanhecer sem me deparar com tantos lamentos.

O amor, infelizmente, é pouco estimado.

domingo, 23 de maio de 2010

Lembranças de uma noite sem fim


O bafo quente do café que flutuava na beira da xícara, era como um suspiro que subia até os meus lábios; um doce suspirar na noite fria.
Aos meus pés jaziam alguns livros velhos impregnados de um cheiro que só se adquire em longos anos pulando de mão em mão, de estante à estante nos diversos sebos, ajuntando em suas fibras histórias que nunca são contadas.
A televisão iluminava em curtos clarões, na mudança de cada cena de um filme francês, as paredes brancas da sala de estar; onde deitava um colchão entrelaçado de mantas e cobertores centralizado geometricamente no desenho que formava os azulejos no chão.
Já passava das três horas e meia e o sono era afogado nos goles de café que eu entornava aos solavancos; enquanto tentava não pensar naquilo que já estava pensando.
Ela.
As ideias socialistas de François Revel não passavam de um aglomerado de palavras formatadas no livro que eu tentava ler em minhas mãos. Por alguns minutos imaginei Marx vestindo uma saia xadrez seguindo os passos de uma velha canção dos anos noventa. Foi vestindo uma saia dessas que eu a conheci. O som batia forte nas caixas penduradas debaixo do toca-discos na garagem da tia dela.
Me lembro do sabor do vinho barato.
Me lembro das lamparinas a meia luz, deixando tudo numa penumbra rosada.
Me lembro do amor.
Me lembro do amor que não existe.
Me lembro da dor.
Me lembro da dor que ainda persiste.

domingo, 16 de maio de 2010

Destino Inc.

O aroma que brota dessas paredes e prateleiras com todos esses produtos e rótulos diferentes sempre me afundam numa sensação nostálgica. Enquanto empurro o carrinho ouço a minha mãe falando ao meu ouvido sobre como escolher a fruta certa. Por onde quer que eu caminhe a procura dos produtos básicos que constam na pequena "lista de suprimentos", como marca o título escrito a tinta vermelha, que fiz a noite passada enquanto era atormentado pela insônia, não consigo achar nada. Sempre tive essa dificuldade. As mulheres devem realmente possuir aquela "coisa", a tal da visão periférica. Era tão fácil para ela encontrar o que ela queria, que na época eu pensava que as mães tinham uma habilidade especial para achar tudo em qualquer lugar.
Já passa das duas e meia e eu ainda não passei pela sessão higiênica. Preciso de muito tempo para escolher um chá, é quase como escolher o livro certo, você pode perder horas na livraria, mas depois que você começa a saborear cada palavra do livro escolhido, cada minuto gasto vale a pena. Semana passada eu levei um de camomila, pra ver se me ajudava com a falta de sono, não adiantou muito. Dessa vez acho que vou levar esse de chocolate com menta. Nossa! É a ultima caixinha, esse definitivamente é pra ser meu!
A vida é cômica, hoje relembrando esse dia nunca podia imaginar onde cada detalhe me levaria. Era como se naquele momento, cada segundo que eu havia gasto para chegar ali eram premeditados, calculados com precisão cartesiana. A moça que esbarrou comigo na escada do prédio, a chave do portão que esqueci na mesa da sala, me fazendo voltar. O ônibus exatamente três minutos atrasado. O idoso que levou cinco minutos e vinte-e-sete segundos para estacionar seu fusquinha, enquanto bloqueava toda a rua. Cada detalhe hoje me da um sentido diferente, um novo prisma de análise sobre o tempo dentro de nossas vidas. Todos esses fatos, cada ocorrido ao longo do caminho desde do momento em que acordei de manhã, até aquele exato momento em que estendi meu braço para alcançar a caixinha de chá na última prateleira, foram escritos para que eu encontrasse ela. Naquela fração de vida, quando que ao mesmo segundo nossas mãos se cruzaram no ar, meu dedo indicador se entrelaçou em seu mindinho, com seu esmalte verde claro fazendo contraste com a palma da minha mão, consegui sentir o cheiro doce amadeirado que o vento trazia ao bater em seu pescoço. Sua pele era macia como algodão, e seu cabelo de um dourado forte brilhava a luz que irradiava da janela do mercado. Naquele instante tudo parecia mais lento, era como se o tempo havia parado de contar. Nossas mãos demoraram para se desentrelaçarem por completo. Nessas horas você não consegue pensar em algo de bom senso para dizer. Eu só consegui soltar um leve sorriso. Ela me acompanhou rindo enquanto seu rosto começava a ficar avermelhado como os morangos que ela trazia em sua cesta. Em seguida num lapso involuntário que sempre ocorre nessas situações, ambos novamente esticamos os braços em direção da caixinha de chá, dessa vez sem nos tocar-mos.
- Ele é todo seu! - ela disse fazendo um movimento estendendo a palma de sua mão enquanto ria. - Você o viu primeiro.
- De forma alguma, essa caixinha combina mais com você! - respondi, colocando as mãos no bolso do moletom verde que vestia aquela manhã.
- Porque você acha que combina comigo? - perguntou ela arrumando a franja que caia em seus olhos azuis.
- A caixinha é verde como seu esmalte. - disse-lhe rindo.
- Ha, ha! Você tem razão, mas não quero deixar a critério de cor uma escolha de chá!
- Agora é você que tem a razão! Pela primeira vez sinto que alguem entende o que se passa sobre o fator "escolha do chá"! É uma coisa muito importante! - disse num tom de comédia.
- Essa é a vida, enquanto uns perdem tempo com a escolha da camisa certa, outros apreciam a escolha do chá exato da vez! - completou ela sorrindo e continuou:
- O que faremos agora meu caro colega de chá?
Em qualquer outro dia eu teria pego o chá colocado no carrinho dela, me despedido e continuado com as minhas compras sem problema nenhum. Mas naquele dia não! Algo me impulsionava, não sabia ao certo o que era aquela sensação insegura que me percorria as veias palpitando-as num fluxo veloz de sangue. Podia sentir minhas mãos suarem frio. Meus pensamentos me enganavam, e minha memória parecia agir por conta própria. Lembrei de todas as namoradas que tive, do meu primeiro beijo embaixo da ponte numa quarta-feira chuvosa. Lembrei até do que minha avó me disse sobre as mulheres quando eu a contrariei em relação a paixão; "Você se diz passivo as paixões por que nunca conheceu uma mulher de verdade!" Suas palavras naquele momento faziam perfeito sentido, e esse sentido me dava forças, e impulsionavam cada parte do meu corpo até meus lábios trêmularem as primeiras palavras que sairam da minha boca:
- Eis o que iremos fazer minha colega de chá! Só deixo você levar essa tão preciosa e solitária caixinha verde de chá, se você aceitar meu convite para abri-la em minha casa, para assim saborearmos juntos! O que me diz?
Ao terminar essas palavras que eu não sabia de onde vinham, assim como não sabia o que fazer depois de te-las dito. Todo o supermercado parecia ter se calado, num completo e ensurdecedor silêncio. Era como se todas as prateleiras se curvavam para ouvir a resposta que demorava uma eternidade para sair. Até que suaves, e límpidas como as águas de uma cachoeira que desce montanha abaixo, vieram refrescantes as palavras, ditas pela sua doce e suave voz, aquilo era como música aos meus ouvidos.
- Nada seria mais apropriado! Afinal nós concordamos fugir do critério da cor na escolha do chá, mas agora esse critério me parece apropriado.
- Como assim? - lhe perguntei perplexo mais com um sorriso no rosto.
- Ora! Usando das suas palavras: Você combina comigo!
- Ha, ha! Você está certa! - respondi alegre enquanto segurava o meu moletom e continuei:
- São coisas como essa que te fazem pensar sobre os detalhes banais que nos cercam a cada instante.
Segurando a caixinha de chá, caminhamos juntos até o caixa.
- Qual o seu nome? - Perguntei a ela.
- Me chame de Anne. E qual é o teu?
- Vinicius.

E agora eu lhe pergunto querido leitor, será que realmente escolhemos alguma coisa nessa vida?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Suspiros, café e meias brancas

Suspirou por lembrar que um dia passa rapido, tentando satisfazer seus caprichos naquela manhã chuvosa, acordou mais cedo e pois-se a divagar no sofá enquanto segurava uma xicará de café.

Duas da tarde, o cheiro de carne fresca que vinha de fora lhe virou o estômago, não sentia a fome, talvez sentisse uma vontade de comer, mas era nula sua vontade de levantar. Olhava para suas meias brancas de algodão enfiadas até a canela, sentia-se feliz pois seus pés estavam aquecidos.

Um barulho no portão despertara sua atenção. "Alguem podia atender a porta." pensou ele. Levantou-se lentamente colocando os pés no chão, abriu a janela e olhou pela fresta, reconheceu sua antiga namorada parada com os braços cruzados, com um ar apreensivo segurando uma sacola plástica amarela. Rapidamente ele abriu a porta e caminhou até o portão, ao perceber ela puxa um cigarro da bolsa e na tentativa de acender suas mãos trêmulas derrubam o isqueiro, agachando-se ao chão ele levanta acendendo o fumo da moça enquanto convida-a para entrar em sua casa puxando-a pela mão.

Trinta minutos se passaram. Os dois rolavam no tapete completamente nús, suados grudando suas mãos umas nas outras se beijavam, enquanto ele a penetrava puxava seu cabelo loiro lavado até os últimos fios quebrarem em seus dedos. Sem proferir se quer uma palavra, ambos esgotados rolavam um pra cada lado no piso frio da sala. A sacola plástica amarela permanecia intacta em cima da mesa. Vestindo sua cueca ele levanta, segue até a cozinha enche sua xícara de café, enquanto ela acende outro cigarro de joelhos no chão. Ao notar uma leve curiosidade dele em relação a sacola plástica em cima da mesa, ela manda-o abrir com cuidado, para por fim chegar ao verdadeiro motivo que a levou à sua casa. Ele mata o café que restava na xícara branca de porcelana, e pega a sacola na mão, desmanchando o nó ele faz cara de suspense olhando fixamente para ela. Ela diz "não se reprima, faça força homem!" enquanto levantava para ajuda-lo. Com um sutil gesto das mãos indicando para ela não vir, ele senta no sofá e finalmente abre a sacola. Num espasmo de espanto arremessa a sacola pra longe e corre pra cozinha lavar suas mãos.

Quatro da tarde, o sol ja começa a beijar o chão no horizonte, os pássaros se aglomeram nas telhas quebradas do telhado, e o vento abre a janela do quarto batendo-a com força na parede, quebrando o silêncio que pairava na casa.
- Que diabos você foi fazer? O que você esperava que eu fosse pensar? ele disse coçando a cabeça com um olhar profundamente assustado.
- Era isso que você mais gostava nela, seus seios não estou certa? retrucou a moça enquanto vestia seu sutiã e continuou:
- Ai estão na sacola pra você!
- Você é doente!
- A minha sorte é que você também é!
- O que você fez com o corpo?
- Que corpo?
- Como assim que corpo porra? Ela não está morta?
- Não! Pelo menos por enquanto. Amarei ela no porta malas do carro do teu irmão.
- Puta que pariu! Na nossa Chevy preta porra? Vai sujar tudo caralho!
- Foda-se, não pedi pra você parar de olhar pro seios daquela rapariga depois da festa aquele dia?
- Merda menina isso foi a oito meses atrás. Você não perdoá nada?
- Odeio perdão. Nunca pedi e nunca dei.
- Porra! Que merda... - disse ele suspirando enquanto sentava novamente no sofá esticando suas pernas.
- Você gostou das minhas meias?
- Adorei! Você fica bem de branco!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um cristianismo sem cristo

Nos falta a espontaneidade.

O desapego foi desapegado.
Dizemos ter fé.
Dizemos ser cristão.
Vivemos numa falsa esperança.
Vivemos um cristianismo sem cristo.
Achamos que a paz será alcançada, mas nossa guerra é nosso próprio viver.
Desperdiçamos o tempo que já passa depressa.

Queremos o bem, mas somente o nosso próprio bem.
Pensamos repudiar o mal, mas alimentamos ele cada vez mais.

Nos falta a espontaneidade.

Buscamos popularidade e não sabemos o que fazer com ela.
Queremos ser seguidos, mas não sabemos ao menos o caminho a seguir.
Queremos atenção, mas não sabemos o que falar.
Tentamos falar de Jesus, e depois cuspimos em suas palavras.
Pregamos um amor que não fazemos idéia do que seja.
Achamos que somos livres mas somos prisioneiros de nós mesmos.
Juntamos lembranças, bens e histórias inúteis, pré-determinadas e condicionadas e esquecemos de simplesmente viver.

Devemos expandir.
"Largar tudo para segui-Lo"
Atingir o auge do nada, afogar-nos em nossa mesquinharia.
Devemos ser amigos da morte, para na morte renascermos.

Voltemos então a pura espontaneidade.
A felicidade que caminha ao nosso lado.

Vamos comer nossa indiferença,
pra defecarmos nosso orgulho.
Vamos beber nosso conhecimento,
para urinarmos nossa falta de humildade.

Deixemos pra traz nossa grande depressão chamada vida.
Pra finalmente vivermos nossa revolução...

A revolução espiritual!

sábado, 1 de maio de 2010

Repressão sexual de quatro

Sexo, sexual, sexualizando...
Comer nesse contexto não é mais empregado como ato de se alimentar.

Será?

Há quem gaste muitos cruzados para comer mais do que necessita, ingerindo uma quantidade demasiada de carne bovina.

Satisfação.

Comer, comestível, comendo...

Há também quem faça trocadilhos alimentares.
Há quem ri.

Mariscos.
Baguete.
Café da manhã na praia.

Eu rio.

O ato sexual é inexpressivo.
Há quem diga, animal, biológico.

Homosapien.

Há quem classifique.
Foi bom.
Foi foda! (redundante)

Eu digo sexo.
Substituívelmente introcado.
Superestimando o estimado.
Socializando o impraticável.

Penso em Jesus e o sexo.
Alguem quer café?
Jesus nunca fez questão.
Forte; Doce.
Porque fazemos?
Preto, quente e na xícara.
Abstinência!

Sexo é como beber Coca-Cola
Você sabe o que ela representa
Mal sabe como é feita
Não tem dinheiro pra comprar,
e acaba bebendo Dolly.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

sobre chá e cristianismo

Enchi uma caneca metálica com aguá, coloquei no fogo alto.
Pensei sobre Jesus e a moda.
Adicionei uma quantidade razoável de açúcar na caneca.
Acho que Jesus optaria por uma roupa que durasse mais.
Arrumei a garrafa térmica e peguei o filtro na mesa.
Será que Jesus ia gostar dos filmes do Spielberg?
A aguá começou a manifestar algum aumento na temperatura.
Mel Gibson seria um bom palpite.
Está começando a ferver, posso ver as bolinhas subindo.
Pensei sobre Jesus e os cristãos do século XXI.
Pronto! A aguá ferveu!
É difícil ser cristão hoje em dia.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Monólogos de um dialogo a sós

Me disseram que a vida no Peru é mais esperançosa do que no resto do mundo.
Ouvi dizer que tudo o que você faz te defini como pessoa, mas tudo o que podemos fazer foi definido por alguem antes. Seriamos então indefinidos pela definição?
Me disseram também que ninguém sabe o que quer da vida.
Mas ouvi dizer que querer algo da vida é como sair pra beber, você só sabe porque bebeu depois que já está bêbado.

Eu disse pro cara do reflexo no espelho do meu banheiro, que aquilo que eu via era a unica coisa que eu tinha certeza que casava a qualquer momento.
Eu também disse que a morte veio me dar um oi esses dias, mas infelizmente foi embora porque eu estava preocupado demais com a vida.

Me preocupei com um mosquito que se enroscou no véu da rosca na padaria.
Andei preocupado também com o volume de euforia nas formigas no chão da cozinha.
Será que ser vai ser um dia algo a se desejar?
Queria ser ator.
Queria me dirigir.
Me maquiar, ajustar meu foco, errar o meu texto, me xingar e fingir que ligo pro Haiti.

Me disseram que a vida no Peru é mais esperançosa do que no resto do mundo.
Acho que vou começar a andar sem cuecas pra fingir que tenho esperança.
Talvez eu devesse fingir varias coisas.
Vou fingir.
Fingindo.

Amanhã vou acordar sair na rua e convidar a primeira mulher que passar por mim para tomar café.

Sem cuecas.

Vou fingir.
Fingindo...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

sobre as coisas do alto...

Não tenho pretensão em falar sobre as coisas do alto, quando no momento tudo o que nós precisamos está relacionado com as coisas aqui de baixo. Antes de buscar as coisas do alto, preciso encontrar o "alto" nas coisas de baixo. Preciso viver o "alto" no que penso, no que acho sei e busco saber. Não se pode buscar as coisas do alto, sem achar o "alto" nas coisas de baixo.
É frustrante ver como as coisas do alto são colocadas de forma contraria e mesquinha na rotina das coisas de baixo.
Amor vira subjetivo, banal e até romance.
Sofrimento vira guerra, opressão e ilusão.

Amor deveria ser praticado.
e
Sofrimento deveria ser analisado e usado como escada para o auto-conhecimento.

Mas como amor e sofrimento são subjetivos na visão que fazem das coisas do alto, retorno a dizer:

Não tenho pretensão em falar sobre as coisas do alto.

"Notas de um jovem safado"

[Este é um mero rascunho de meu caderno velho]

O que é uma noite, se não as melhores horas do dia?
Estava pensando em fazer. Fazer é como respirar, você não se importa somente faz. Agora não fazer é como amar, você se importa mas não faz.

As vezes eu queria ser. Não queria existir ainda. Somente ser...

Alguns dizem que a vida é como uma folha de caderno em branco, e que você escolhe o que vai escrever. Pra mim a vida se encaixa mais numa folha em branco de papel higiênico, que é puro e limpo mas no fim agente enche ele de merda e joga no lixo...

Acabei de ler uma frase interessante num livro do Kerouac sobre as mulheres, me fez rir, dizia assim:
"A verdade sobre tudo é que nós não compreendemos nossas mulheres, nós as culpamos, mas a culpa é toda nossa."

A culpa é sempre de quem tem culpa, afinal pra que diabos serve a culpa? Culpa é como masturbação, você escolhe fazer por você mesmo e só você sente.

Esse lance de auto-destruição é um tópico a ser deflorado...

Acidentalmente acabei me perguntando se agente escreve para nós mesmos, ou para os outros. A quem diria que se fosse para nós mesmos não teria sentido escrever, acabaríamos por apagar assim que terminássemos, pela lógica. Mas a quem diria que se fosse para os outros não teria o efeito desejado, pois cada um analisa pelo seu próprio prisma. Eu penso que escrevemos para nós mesmos e para os outros. Para os outros pela intenção proposta no texto, e para nós mesmos pelo reflexo aflorado que o texto pode causar nos outros.

Espero que vocês não aflorem as intenções que eu quis passar essa noite...