terça-feira, 20 de março de 2012

Feminização do Homo Cogitare

poderia ser uma sensação afetuosa;
poderia ser, enquanto o suor brotava pelas mãos, má desenvoltura mediante ao contato próximo: partículas se chocaram no ar quando ela passou por mim, um perfume químico se alastrou quando ela se sentou ao meu lado;
poderia ser tudo isso, orgânico, desejoso, límpido fluir da vontade instintiva;
os finos fios de cabelo encaracolados se avolumando num coque despretensioso, ela sorri, todos sorriem, os pássaros sorriem, os cavalos sorriem, o vovô sem dentes sorri, a criança lambe o pirulito vermelho e pula sorrindo: ninguém é feliz! pretensiosamente afirmo à luz da despretensão;
poderia ser amor, mas não é nada além do que poderia ser, do que se põem por debaixo do ser ou não ser, a devir futurante do que foi sem ser, das qualidades valorativas da escolha ao desalento nausear do alto-mar da indecisão;
poderia ser a fantasiosa imaginação;
imagino que seja; contudo vireis a ser? imagina! menina!
no verão imagino ter culhões pra embrenhar os dedos delicadamente no coque que ali se põem a ser por sobre a cabeça daquele ser, agora à luz da imaginação, que é livre e feliz sem sorrir;
deleito meus lábios, sendo ou não sendo, por sobre minha Julieta, minha razão, meu sensato juízo de sensibilidade personificado daquilo que poderia ser o que nunca é, mas que de maneira pitoresca se aloja em meu criar, em ti, nelas, todas a sorrirem desenvolvendo novas manias de velhas neuroses, lamentando novos pesares de antigos cadáveres, tudo aquilo que pelas palavras que emergem, que pasteurizam-se em fatias podres e esburacadas de microrganismos de uma escola orgânica de pensamento em construção;
que poderia ser uma sensação afetuosa;
mas sou eu pensando enquanto penso em você.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Sobre a sensível vida vivida; para ti.

De um ato de amor, existe.
Sua essencialidade frágil, consistentemente admirável; uma forma além da experiência.
Em tal sensibilidade aflora-se uma inquietude peculiar. Aquele desejo de não desejar nada além do que se deseja desejando.
Caindo as folhas no gramado verde. Ventando a vida se esvai, o sol desce; o tempo. Inspira, expira, adormece, sonha... se envelhece.
Vislumbra-se de fato substancialmente a vida ali. Nos passos enraizados que melodiando-se seguem se expressando.
As pequenas mãos afastam a franja que desliza pelo rosto.
De um sorriso flui.
Que existe; amor.