Ela odiava filmes. Não conseguia suportar um enredo. As letras surgindo, com os nomes ofuscando a tela. Desejava ver a vida crua e simples. “Pois na vida...” dizia ela “ ...na vida o fim não importa. Feliz ou não, o que vale é o que já foi, e o que é vivido”.
Ele já amava o cinema. Se orgulhava quando dissertava sobre os grandes mestres, para uma audiência interessada. Adorava as visões estabelecidas, o prisma pelo qual os diretores observavam os fatos. Almejava fazer de sua vida um filme. Dramático cheio de intrigas e desapego. Despretensioso e amável. Terrível e insano. Ele queria amar como Fellini e matar feito Tarantino. Queria, daquela mágica, fazer parte e terminar com os créditos descendo e uma plateia satisfeita.
O doce e o amargo. O quente e o frio. Nas entrelinhas do tempo o oposto virou do avesso. O feliz amou o triste. O sonhador acordou para o pesadelo. A vida cômica se divertia novamente. Ela morta pessimista. Ele vivo e cheio de amor. Um amor consistente como um vírus. Ela agora infectada para viver. Nas desventuras a realidade sonhou e o sonho se viu realizado. Amava-a. Indiferente. Inconsequente. Desejava-o. Infinitamente. Para enfim morrer.
Nem Fellini nem a ideia que ela tinha do amar. A vida por fim se mostrava novamente ininteligível. Desconhecida por qualquer mente. Desbravada eternamente. Sem razão as coisas fluem, como a água das entranhas da terra. Mas na vida não podemos cavar tão fundo assim... Podemos?
Se seu somentário não tivesse sido tão desafiador e suicida, eu quase não ia gostar.
ResponderExcluirPensei em aceitar o desafio: escrever algo que não fosse eu, mas descobri que mesmo o fazendo, estaria mais perto ainda de mim mesma.
"sou mais o que em mim não é".
E não sei se gosto ou não daqui. "Me intriga", só que isso é bom porque sempre volto.
Até.