Ele está sozinho; fato esse que o faz pensar na solidão do mundo, na solidão de viver, em duas sensações opostas, ele pensa no prazer de mijar, e na tristeza de estar sozinho.
Sobe o zíper com cuidado, espera alguns segundos enquanto olha para as pedrinhas odoríficas cor-de-rosa, aperta a descarga e vê a água, antes amarelada, sumir. Caminha em direção a porta, mas volta ao se esquecer de lavar as mãos, não tinha o hábito, mas naquela tarde lhe sobrava tempo, e quando se tem tempo a pior coisa que se pode fazer é não fazer nada.
Quinze horas.
De volta a tua casa , na esquina da alameda com a avenida, ele se encontra deitado no chão. O resto do café esfria na caneca, onde as moscas repousam livres.
Ele queria ser livre, na verdade pensava nisso o tempo todo, e o mais cruel disso é que ele não era adepto daquela máxima de "...pensar é fazer" logo, não fazia nada.
Pensando no nada, aquela altura ele constituía seu ser em nada.
"Aquele almoço não desceu adequadamente" pensava ele. "As pedrinhas cor-de-rosa ao menos não eram sozinhas." voltou a pensar. Naquele momento ele preferia viver sob urina e se desfalecer-se na mesma, mas vivendo assim em companhia, do que viver sendo ele sozinho.
Ele disca um numero no telefone. Alguém do outro lado atende. Ele fica mudo. A voz insiste.
"Oi" ele diz.
"É você?" a voz responde.
"Sim" ele murmura.
"Eu estava esperando você." diz a voz calma.
Ele olha para os seus pés descalços. Olha para o tapete sujo. Olha para as moscas livres que repousavam agora num resto de comida sobre um prato no chão. Elas são livres, sobre o pedaço de frango de ontem. Ele viu que era livre como a mosca, da forma como vivia afinal, ele conseguiu.
A sua liberdade agora lhe dava náuseas.
Ele pensa novamente nas pedrinhas odoríficas cor-de-rosa, unidas até sumirem na urina de um cliente do restaurante chinês. Pensa na solidão.
"Estou indo" ele responde.
"Eu te amo" a voz sussurra.
Ela desliga.
Porra.. fiquei sem palavras
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