domingo, 23 de maio de 2010

Lembranças de uma noite sem fim


O bafo quente do café que flutuava na beira da xícara, era como um suspiro que subia até os meus lábios; um doce suspirar na noite fria.
Aos meus pés jaziam alguns livros velhos impregnados de um cheiro que só se adquire em longos anos pulando de mão em mão, de estante à estante nos diversos sebos, ajuntando em suas fibras histórias que nunca são contadas.
A televisão iluminava em curtos clarões, na mudança de cada cena de um filme francês, as paredes brancas da sala de estar; onde deitava um colchão entrelaçado de mantas e cobertores centralizado geometricamente no desenho que formava os azulejos no chão.
Já passava das três horas e meia e o sono era afogado nos goles de café que eu entornava aos solavancos; enquanto tentava não pensar naquilo que já estava pensando.
Ela.
As ideias socialistas de François Revel não passavam de um aglomerado de palavras formatadas no livro que eu tentava ler em minhas mãos. Por alguns minutos imaginei Marx vestindo uma saia xadrez seguindo os passos de uma velha canção dos anos noventa. Foi vestindo uma saia dessas que eu a conheci. O som batia forte nas caixas penduradas debaixo do toca-discos na garagem da tia dela.
Me lembro do sabor do vinho barato.
Me lembro das lamparinas a meia luz, deixando tudo numa penumbra rosada.
Me lembro do amor.
Me lembro do amor que não existe.
Me lembro da dor.
Me lembro da dor que ainda persiste.

2 comentários:

  1. Gostei do final mais do que do começo e do meio. Mas se eu só lesse a partir do "Me lembro" e não tivesse lido o começo nem o meio, não faria o mesmo efeito...

    Enfim, gostei do texto.

    ResponderExcluir
  2. vini tu 'e phoda, escreve um livro q eu compro hehe

    ResponderExcluir