quarta-feira, 6 de abril de 2011

A porta

A porta não abria.
Com seu punho fechado ele esmurrava incessantemente, mas ela não abria. Pequenas marcas de sangue se desenhavam delineando na madeira a fúria de um ato. Um ato; ele era isso. Mero e fútil ato. Sua vontade não sucumbia ao puro fato da porta estar fechada.
Por toda a sua a vida as portas se mantiveram fechadas. Por toda a sua vida ele resistiu. Mas naquele momento ele queria entrar. Houve um determinado momento em que a luz era necessária por inteiro; já não bastava aquela fresta, aquele fio de esperança que entrava por de baixo da porta.
Aquilo que ele esmurrava podia ser qualquer coisa, mas era uma porta. Para ele não passava de um rosto pálido de alguém que ali não estava quando ele precisou. Sentia abrir a pele por sobre seus punhos, em sua cabeça já não se podia dizer da onde o sangue jorrava. Seus pés firmes. Seus olhos lacrimejando. "Me tire daqui!" ele dizia.
 E aquilo, que para ele era um rosto pálido, agora sorria, os dentes sujos de sangue apareciam um-a-um, a testa franzida, o olhar sereno. Sua vontade sucumbiu. Ele já não batia mais. Não queria saber por onde andava aquele ser ausente. Não queria mais buscar ajuda. Já não queria se ver livre da solidão. Seus olhos aos poucos foram acostumando com a escuridão negra, lentamente a luz que antes mal se via entrar por de baixo da porta, tomava o quarto por completo, trazendo vida. Sua mão ficou mais leve, ele havia parado de chorar, somente uma gota atrasada caía, deslizando abaixo por sua face até o nariz.
Já enxergava a maçaneta.
A porta abriu.

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