sexta-feira, 12 de maio de 2017

Sobre a minha relação com você

O vazio que há quando seu nome vira som.
Entre o amargo gosto do sofrer e do sorrir: tens razão em não dizer, não fluir.
Sexta-feira no bar lhe vi. Por instantes não senti, notei-te escura, sem brilho ao lado de uma porção de pessoas. Em prontidão a mijar no mictório enferrujado mirava as bolinhas brancas e não mais te via, mas ali na ausência eu sentia.
Talvez a presença que habita, aquela clareira que abre o negro das folhas como a urina que espalha o que molha, esteja sempre lá a partir do momento em que abriste-a em minha vivência. E tal presença me conforta mais do que concretamente ter-te em meu campo de visão. Ver-te é pesado demais, carrega, enche e ainda assim é não, é choro seco, é vão.
Resta uma pergunta: isso é orgânico?
Pressiono esse sentir que paira equilibrado por sob meu estar e espremo uma sensação que chamo de você. Esse você se distingue da gama de variações as quais me permito fabular sob meu próprio entender, ainda assim não é precisamente você, obviamente você ainda senta no bar de pernas cruzadas com a meia calça marcando na ponta da cadeira; aquele númeno de batom que contraria as regras empíricas: não é aquilo que abre o espaço em mim, mas é presente.
No jogo entre o fisiológico e o fenômeno sobrevive uma dialética que alimenta uma pulsão interna que na maioria das vezes é mais substancial do que propriamente você. A essa dialética chamo você-em-minha-vivência. Nesse mundo subjetivo, onde entendo um eu não isolado mas constantemente moldável pela vida concreta, sofro um sofrimento sem dor, um vazio de um dizer.
O vazio que eu ouço quando seu nome vira som.
Um vazio que preenche quando essa imagem de você reaparece perante meu olhar, mas que não se mantém por ser em demasia, sempre transbordante escapa.
É isso, você, inspiração.

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