quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Na margem do rio

Era uma vez uma bóia...
Azul escuro era sua cor. De longe se via ela descer o rio. Rio de águas frias, negro. O rio era tua vida, e a bóia seguia vivendo, ao longo do caminho sentia estar vivendo, sentia que percorria um caminho, um caminho natural e único, posto que alguém à colocou na água, era difícil conceber outra realidade.
Ao longo do extenso rio, o tempo passava, o sol brilhava e se punha, a noite trazia a escuridão quando volte-e-meia a lua teimava em se esconder.  Escuridão essa que nutria o desespero em nossa bóia. Essas noites escuras afloraram-à peculiares pensamentos: de que talvez não tivesse escolha, que talvez o rio não fosse a sua vida afinal, de que a vida não nos leva assim incessantemente sem termos a opção de escolher não fluir água abaixo. Esse pensamento subitamente deixou a pobre bóia numa profunda angustia, e a medida que o tempo passava, ela continuava descendo, e descendo. A vida que ela imaginou ser a dela, era uma vida imposta, ela sempre descia, sua verdadeira vida, àquela a qual o sentido viria, era uma mera visualização de uma vontade que ela não tinha como alcançar. Só existia a vida no rio.
Subitamente ela se perguntou: Não teria sido eu que me joguei nas águas desse rio? Até que ponto eu posso pensar que fui colocada nele? Me atirei por pensar que essa vida no rio era linda? Que as águas correriam sempre me levando, me levando pra um final esclarecido e transcenderia a minha existência?
A verdade. Essa sim machucava a bóia. E não era aquela verdade objeto de desejo dos pensadores. É aquela verdade que vem de dentro, a verdade que só ela podia descobrir porque era a sua verdade.
Nem o rio, nem essa vida fora dele. A descoberta de que sua escolha era de fato essencial. Notou que era um pouco tarde. A vida continuava passando. A bóia deve arrastar-se pela margem, se arranhar, se machucar, lutar contra  a água que à puxa, que puxa tua vontade de viver fora d'água. Mas no fim ela ira sair.
Na margem do rio seu olhar será sempre nostálgico, a vida dentro d´água tinha seus encantos.
Na margem do rio ela ira sorrir.
Na margem do rio.

Um comentário:

  1. linda analogia, muito adequada. huhu
    Cada dia me surpreende mais com sua escrita. ;]

    te amo, espero que nos vejamos na margem um dia.

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