terça-feira, 20 de agosto de 2013

Afasia Sensorial

Um que sem por; pra ela, Joana, alojada no sofá, os pés acoplados em duas almofadas assimétricas, a vida às 03:14 da madrugada era um chá de bebê azulado, choroso; nas entrelinhas uma pauta sem silêncio arrotava fragmentos do dia interruptamente: a revisão de um 20deagostoqualquer que insistia em tomar café pra não dormir, um mendigo com frio pedindo esmola na frente do Itaú laranja como o suco do almoço; artificial, forte, gordo, um sono de púlpito, as pálpebras em queda livre até as 5 horas e os 30 minutos de ônibus servindo ao sonho, uma bruta vontade de jogar o corpo no colchão felpudo; Joana viu o sofá e caiu, e o sono catastrófico morreu; porque?
Um quem sem dor; o fundo de sintetizador 001 sax-tenor abafa o grunhir sexual do porno broxo do canal 42; Joana asfixiada de tanto ar, reparando no fundo à esquerda do bumbumquenãotomousol do Jimicock do canal 42 há um abajur igual ao seu, branco com uma flor segurando a lâmpada vagaluminosa; às 03:33 a vida era um chá de bebe de rosemary; as pastosas lembranças do dia antes insistentes num lapso, como o gozo estereotipado na tv, eram um vácuo no universo negro dos cabelos  enroladinhos de Joana; era percepção; constatação vazia de que não era por não estar com alguém, amargo era perceber-se só; e o sono massageado fortemente nos broncos da razão acordara cuspindo; ninguém.

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